SIGA A EI NAS REDES SOCIAIS:
66 3401-5822
ENSINO MÉDIO
05 Maio 2020
O BARULHO DA VARINHA

              Nada parecia estar errado, era apenas mais um dia comum na vida de Jack, um adolescente de 14 anos estudioso, educado e organizado que havia se mudado para uma casa nova, mas um pouco antiga, há pouco tempo. Os antigos donos, um casal de idosos, ficaram pouco menos de uma semana nela e não deram muitas informações sobre a casa, porque nem mesmo chegaram a conhecer todos os 20 cômodos que aquela mansão tinha. Apenas disseram que ouviam alguns barulhos estranhos que vinham do jardim, algo parecido com o cantar de uma sereia, que no início era bonito de se ouvir, mas que acabou se tornando massivo e irritante, pois não os deixava dormir direito nenhuma noite sequer.

            Contudo, os pais de Jack, Harry e Lourry Anistony nunca chegaram a ouvir o tal barulho a que se referiam os antigos proprietários do imóvel, contudo Jack nunca tinha sossego, todos os dias, à noite enquanto tentava dormir, era incomodado pelo ruído doce e afiado que penetrava seus ouvidos, impedindo-o de dormir e de se concentrar nas aulas. Alisson, seu melhor amigo, percebeu que ele não estava normal, então chegou nele durante a aula e perguntou se havia algo de errado e Jack, com cara de sono e duas olheiras marcadas debaixo dos olhos, respondeu que não dormia direito há cerca de uma semana, deixando Alisson curioso, mas ele ficou em silêncio e ao mesmo tempo preocupado.

            Naquela tarde de sexta-feira, o primeiro dia das férias de verão, Jack estava determinado a chegar até onde começava o ruído que lhe tirava as noites de sono todos os dias. Exatamente as 20 horas a melodia começou, mais alta do que nunca, até parecia que queria que alguém a encontrasse mesmo. Conforme andava pelo gramado, o som aumentava mais e mais a cada momento, chegando a um ponto em que sentiu o som subir pelo seu corpo como uma onda de choque, não teve dúvida de que aquele era o lugar certo, pegou a pá que carregava consigo e começou a cavar, cavou por durante aproximadamente 5 minutos e achou um graveto, sim, um simples e inútil graveto. Ficou desiludido ao ver sua esperança de ter noites de sono tranquilas ir por água a baixo.    

            Em um momento de muita raiva, jogou o pedaço de madeira, escuro e fino, no chão e quando se virou para ir embora, escutou uma voz que vinha por trás, virou-se e viu alguém num holograma, mas quem era ele? Ele se apresentou com Winkker Water e, por incrível que pareça, o homem sabia seu nome completo, Jack Anistony, parecia que ele havia sido predestinado para ouvir o que seria falado. O mago falou que aquilo não era um bastão, um graveto ou um pedaço de madeira qualquer, era uma varinha mágica e Winkker disse que quem seguisse o som que ela emitia e a encontrasse era digno de possuí-la, mas é claro que tudo aquilo tinha um objetivo maior: dali a 2 semanas, a humanidade seria atacada por Skory, o inimigo de todos os bruxos bons e como a varinha escolheu a Jack, ele teria que treinar para conseguir encarar o inimigo e vencer.

            Durante toda essa fala, o menino arregalou os olhos, abriu a boca, parou de respirar por alguns segundos e começou a pensar no que de pior poderia acontecer com ele. Quis negar o que lhe foi oferecido, mas não teve a oportunidade, o mago do holograma não lhe deu a chance de falar e prometeu que mandaria alguém para ajudá-lo com essa tarefa e, no mesmo momento, ouviu a campainha tocar. Era Alisson, Jack ficou sem entender nada, então seu “melhor amigo” explicou que na verdade não era adolescente e que se chamava Hermos, ele foi mandado com a função de ajudar e proteger Jack, desde antes dele nascer até que chegasse a esse momento. Tudo aquilo parecia ser um sonho, uma alucinação, então Jack indagou raivosamente:

-- Só pode ser brincadeira com a minha cara! Eu tô sonhando ou com um palhaço desenhado na cara?

-- Nem um nem outro, tudo isso é muito real e daqui a um tempo você vai se acostumar com a ideia -- Respondeu Hermos.

-- Eu não vou lutar com nenhum vilão da Marvel, muito menos usando uma varinha mágica do Harry Potter -- Afirmou Jack, em tom sarcástico.

-- Então você vai presenciar a destruição do seu planeta e de todos os que você ama, de camarote. É isso que você quer? -- Retrucou Hermos.

-- Eu não sei fazer feitiços pra começo de conversa -- Disse Jack.

-- E exatamente por isso é que eu estou aqui -- Rebateu Hermos.

            Depois de muito retrucar, o adolescente finalmente aceitou o que viria pela frente. Hermos disse ao garoto que para lançar feitiços com perfeição e destreza, ele só tinha que mentalizar o que queria que acontecesse e acreditar verdadeiramente que pudesse ser realizado. Porém, nas seis primeiras tentativas, a descrença de Jack se sobressaiu ao desejo de que aquilo funcionasse, mas a partir da sétima chance, ele confiou e finalmente conseguiu transformar uma pedra em um pão francês, macio, crocante e quentinho, assim como ele havia pensado, ficou pasmo, mas seus olhos brilhavam tanto quanto as estrelas mais brilhantes do céu. Dali por diante, tornou-se mais confiante e passou a acreditar no que o seu mestre dizia.

            Passada a primeira semana, Jack já havia evoluído muito nos feitiços e já era capaz de transformar um gato em um cachorro, o que era bem difícil, mas ainda não era o suficiente:

-- Hermos, acho que já estou pronto -- Disse Jack, com confiança.

-- Você está apenas na metade do treinamento, Skory é um inimigo perigoso e muito poderoso, a varinha traz consigo um poder imenso, mas é preciso saber usá-la corretamente -- Respondeu Hermos.

-- Ok, então vamos continuar -- Disse Jack.

-- É assim mesmo que agem os grandes magos, com determinação e foco -- Retribuiu Hermos, com um grande sorriso no rosto.

            Durante todo o restante da semana, Jack treinou incessantemente para poder chegar ao seu objetivo, estava quase lá. O grande dia estava cada vez mais próximo e isso era o que motivava ele a não desistir, mesmo que estivesse cansado e dolorido. Chegada a hora, não se via no céu uma única nuvem, o dia estava lindo até então, mas quando o inimigo realmente estava prestes a chegar, o céu se escureceu, o ar se tornou seco e o dia perdeu toda a sua beleza. Skory surgiu por um passe de mágica na frente de Jack, induzido pelo poder da varinha que o menino carregava:

-- Dê-me essa varinha mágica agora -- Disse Skory.

-- Nunca vai encostar suas mãos imundas e obscuras nela -- Retrucou Jack, segurando a varinha com bastante força.

-- Como ousas desafiar o grande Skory seu pirralho inconveniente -- Disse Skory, bravo e bufando.

-- Se você a quer, vem pegar! -- Afirmou Jack, com toda confiança.

            Naquela mesma tarde, a batalha começou e Jack se lembrava de cada uma das lições que aprendera com seu antigo mestre. O menino olhava para Skory e não sentia ódio, muito pelo contrário, em seus olhos castanho-escuros via algo que lhe parecia familiar, mas não sabia dizer o que era. Não tinha nenhuma vontade de atacá-lo e por isso hesitava em lançar feitiços que ele pensava que poderiam o matar. Em um raio verde escuro, o menino lançou a Magia da Jaula, na esperança de que pudesse aprisionar o inimigo sem feri-lo. Contudo, Skory, notavelmente superior ao garoto, sentia o medo fluir pelas veias de Jack e apenas se defendia dos seus feitiços. Quando ele finalmente decidiu atacar, Jack não conseguiu se defender e caiu num sono profundo.

            Acordou já à noite, acorrentado a uma cama sem saber onde estava. Skory havia o levado à sua nave mãe, que estava no espaço, onde nenhuma magia ou qualquer GPS poderia achá-los. Jack já estava prestes a chorar, não tinha como se defender do inimigo e não havia ninguém ali para ajudá-lo. Além disso, o Grande Mago do Mal havia pegado a sua varinha mágica e agora tinha tudo que precisava para destruir o planeta Terra. Skory entrou no quarto onde Jack estava e as correntes que o prendiam a cama se soltaram, naquele momento, ele teve total certeza de que aquilo seria acompanhado por algum tipo de tortura, então esperava pelo pior. Os dois se encaravam profundamente e pareciam sentir o que o outro sentia:

-- Eu sei que você está com medo e que quer ir embora, mas nós precisamos conversar a sós – Disse Skory.

-- Tudo que eu preciso dizer é que você não presta e que, com certeza, é o ser mais ordinário que eu já conheci – Afirmou Jack, com expressão séria e olhar sombrio.

-- Tudo que te disseram é mentira e eu posso provar – Rebateu Skory.

-- Então prove! – Disse Jack.

-- Ok. Você nunca pensou no porquê de mandarem alguém para te vigiar desde antes de você nascer? Isso é loucura – Indagou Skory.

-- Porque queriam me proteger até que chegasse o momento de lutar contra você – Rebateu Jack.

-- Então, por que não te treinaram mais cedo para que tivesse uma chance maior de vencer um inimigo que eles diziam ser tão perigoso? – Perguntou Skory.

-- Não sei – Disse Jack, já começando a acreditar no que o “inimigo” estava afirmando.

-- Você não foi a primeira pessoa que eles mandaram, mas diferentemente de você, eu não consegui salvar nenhum dos outros. Quatro outros jovens morreram pelas mãos das pessoas em quem eles confiaram à vida – Afirmou Skory, chorando como quem se sente culpado.

            Algo dentro de Jack dizia que tudo aquilo era verdade, mas ele não queria acreditar. Skory contou ao adolescente que, durante milhões de anos, ele protegeu a Terra contra Hermos e Zorbes, magos do mal que desde o surgimento do planeta, viviam entre os humanos com a função de distorcer a cabeça dos jovens e os virar contra quem, na verdade, os queria proteger, a fim de que pudessem destruir o planeta sem a intervenção de Skory. Portanto, ele propôs que Jack levasse sua varinha para a Terra e que a desse para Hermos, como sinal de que ele havia derrotado o inimigo.

            Jack já não tinha mais a menor dúvida de que tudo aquilo era verdade, então aceitou a proposta que Skory lhe fez sem nem mesmo pensar duas vezes. Estava se sentindo traído e usado, não conseguindo conter a raiva que sentia naquele momento. Na manhã do outro dia, Jack já estava na Terra e trazia consigo a varinha de Skory, que representaria sua vitória gloriosa sobre o adversário. Foi devolvido ao campo de batalha e Hermos já estava lá para recebê-lo. Ao perceber que Jack estava com a varinha do inimigo, Hermos abriu um grande e medonho sorriso, que revelava sua alegria.

            Tratou logo de felicitar Jack pela grande conquista, sem deixá-lo saber do real plano. Alguns minutos depois, Zorbes chega pelas costas e imobiliza Jack com o feitiço “Estátua de Pedra”. Tudo que Skory disse se mostrou ser verdadeiro e o menino não conseguiu se defender nem esboçar reação. Skory chegou como em um feixe de luz cósmica ao lado de Jack, quebrando o feitiço lançado sobre ele. Naquele momento, todos perceberam que o poder daquele ser não se reduzia a uma simples varinha mágica. Hermos e Zorbes não tiveram tempo de esboçar reação, acabaram sendo incinerados vivos e reduzidos a pó, o qual foi levado pelo vento forte que se dirigia ao oeste.

            O mundo parecia estar a salvo e aquele sofrimento parecia ter sido findado, o dia estava claro, o céu estava limpo e a brisa, que vinha do oriente, era refrescante. Contudo, Jack, o adolescente de 14 anos, alegre, estudioso e animado, já não tinha mais o porquê de viver, a luz cósmica desfez o feitiço que havia sobre ele e a varinha mágica de Skory perfurou seu coração, fazendo com que o sangue puro e a alma inocente do garoto protegessem a Terra contra ameaças externas. Skory não era o real mocinho da história e, na verdade, isso se mostrou ser apenas uma ilusão. O “Felizes para Sempre” cobrou o seu preço e nada pode mudar isso.

           

Daniel Cintra de Castro - 9º ano

Professora: Isa Angélica

FIQUE LIGADO!